2º ANO E – NOTURNO - 2017
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA
PROFESSORA: REGINA
NOME:
CONTEÚDO: REALISMO E NATURALISMO NO BRASIL
Em 1857, o mesmo ano em
que no Brasil era publicado O guarani, de
José de Alencar, na França é publicado Madame Bovary, de
Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance realista da
literatura universal. Em 1865, Claude Bernard publica
Introdução à medicina experimental, com uma tese sobre a hereditariedade. Em
1867 Émile Zola publica Thérèse Raquin,
inaugurando o romance naturalista.
No Brasil considera-se
1881 como o ano inaugural do Realismo. De fato, esse foi um ano fértil para a
literatura brasileira, com a publicação de dois romances fundamentais,
que modificaram o curso de nossas letras: Aluísio Azevedo publica O mulato, o primeiro romance naturalista do Brasil; Machado
de Assis publica Memórias póstumas de Brás
Cubas, o primeiro romance realista de nossa
literatura.
Na divisão tradicional
da história da literatura brasileira, o ano considerado data final do Realismo
é 1893, com a publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Souza,
obras inaugurais do Simbolismo.
No entanto, é importante
salientar que 1893 registra o início do Simbolismo, mas não o término do
Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e
naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo.
Basta lembrar que Dom Casmurro,
de Machado de Assis, é de 1900; Esaú e Jacó, do mesmo
autor, é de 1904. Olavo Bilac foi
eleito “príncipe dos poetas” em 1907. A Academia Brasileira de Letras,
templo do Realismo, é de 1897.
Na realidade, nos
últimos vinte anos do século XIX e nos primeiros vinte anos do século XX, temos
três estéticas que se desenvolvem paralelas: o Realismo e suas manifestações, o
Simbolismo e o Pré-Modernismo,
que só conhecem o golpe fatal em 1922, com a Semana de Arte Moderna.
Contexto Histórico
O Realismo e o
Naturalismo refletem as profundas transformações econômicas, políticas, sociais
e culturais da Segunda metade do século XIX. A Revolução Industrial,
iniciada no século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização
do aço, do petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo o avanço científico leva
a novas descobertas nos campos da Física e da Química.
O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com
o surgimento de grandes complexos industriais; por outro lado, a massa operária
urbana avoluma-se, formando uma população marginalizada que não partilha dos
benefícios gerados pelo progresso industrial mas, pelo contrário, é explorada e
sujeita a condições subumanas de trabalho.
Esta nova sociedade serve de pano de fundo para uma
nova interpretação da realidade, gerando teorias de variadas posturas
ideológicas. Numa sequência cronológica temos:
·
o Positivismo de Auguste Comte, preocupado com o
real-sensível, o fato, defendendo o cientificismo no pensamento filosófico e a
conciliação da “ordem e progresso” (a
expressão, utilizada na bandeira republicana do Brasil, é de inspiração
comtiana);
·
o Socialismo Científico de
Karl Marx e Friedrich Engels, a partir da publicação do Manifesto Comunista,
em 1848, definindo o materialismo histórico (“o
modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social,
político e intelectual em geral” – K. Marx) e a luta de classes;
·
o Evolucionismo de Charles Darwin, a partir da
publicação, em 1859, de A origem das espécies, livro em que ele expõe seus
estudos sobre a evolução das espécies pelo processo de seleção natural, negando
portanto a origem divina defendida pelo Cristianismo.
O Brasil também passa
por mudanças radicais tanto no campo econômico como no político-social, no
período compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças
materiais, se comparadas às da Europa. A campanha abolicionista
intensifica-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/70)
tem como consequência o pensamento republicano – o Partido Republicano foi
fundado no ano em que essa guerra acabou –; a Monarquia vive uma vertiginosa
decadência.
A Lei Áurea, de
1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade. O
fim da mão-de-obra escrava e a sua substituição pela mão-de-obra assalariada,
então representada pelas levas de imigrantes europeus que vinham trabalhar na
lavoura cafeeira, originou uma nova economia voltada para o mercado externo,
mas agora sem a estrutura colonialista.
É nesse contexto sócio-político-científico que
surgem o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. A alteração do quadro
social e cultural exigia dos escritores outra forma de abordar a realidade:
menos idealizada do que a romântica e mais objetiva, crítica e
participante. Contudo há semelhanças e diferenças entre essas
correntes. As semelhanças residem na objetividade, na luta contra o
Romantismo e no gosto por descrições minuciosas.
Características
As características do Realismo e do Naturalismo
estão intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo, dessa forma, a
postura do Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo, com todas as suas
variantes. Assim é que o objetivismo aparece como negação do subjetivismo
romântico e nos mostra o homem voltado para aquilo que está diante e fora dele,
o não-eu; o personalismo cede terreno para o universalismo. O materialismo leva
à negação do sentimentalismo e da metafísica. O nacionalismo e a volta ao
passado histórico são deixados de lado; o Realismo só se preocupa com o
presente, o contemporâneo. Influenciados por Hypolite Taine e sua Filosofia da
arte, os autores realistas são adeptos do determinismo, segundo o qual a obra
de arte seria determinada por três fatores: o meio, o momento e a raça – esta,
no que se refere à hereditariedade. O avanço das ciências, no século XIX,
influencia sobremaneira os autores da nova estética, principalmente os
naturalistas, donde se falar em cientificismo nas obras desse período.
Ideologicamente os
autores desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal
republicano, como se observa na leitura de romances como O Mulato, O Cortiço e O Ateneu, por
exemplo. Negam a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade: a
família; eis por que os sempre presentes triângulos amorosos, formados pelo pai
traído, a mãe adúltera e o amante, que é sempre um “amigo da casa”; para
citarmos apenas exemplos famosos de Machado de Assis, eis alguns
triângulos: Bentinho/Capitu/Escobar; Lobo Neves/Virgília/Brás Cubas;
Cristiano Palha/Sofia Palha/Rubião.
São anticlericais,
destacando-se em suas obras os padres corruptos e a hipocrisia de velhas
beatas.
Finalmente é importante salientar que Realismo é denominação genérica da escola literária, sendo que nela se podem perceber três tendências distintas, expostas a seguir.
Finalmente é importante salientar que Realismo é denominação genérica da escola literária, sendo que nela se podem perceber três tendências distintas, expostas a seguir.
Diferenças entre Realismo e Naturalismo
Realismo:
Realismo:
- Retrato fiel do personagem
- Lentidão Narrativa
- Interpretação do caráter
- Materialização do amor
- Determinismo e relação entre causa e efeito
- Veracidade
- Detalhes específicos.
- Visão determinista e mecanicista do homem
- Cientificismo
- Personagens patológicas
- Incorporação de termos científicos e profissionais
- Determinista, Evolucionista e Positivista
Romance Realista
Cultivado no Brasil por Machado de Assis, é uma
narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a crítica à
sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. É
interessante constatar que os cinco romances da fase realista de Machado
apresentam nomes próprios em seus títulos – Brás Cubas; Quincas Borba; D.
Casmurro; Esaú e Jacó; Aires –, revelando clara preocupação com o indivíduo.
O romance realista analisa a sociedade “por cima”,
ou seja, seus personagens são capitalistas, pertencem à classe dominante; mais
uma vez nos voltamos para a obra de Machado e percebemos que Brás Cubas não
produz, vive do capital, o mesmo acontecendo com Bentinho; já Quincas Borba era
louco e mendigo até receber uma herança; o único dos personagens centrais de
Machado que trabalhava era Rubião (professor em Minas), mas recebe a herança de
Quincas Borba, muda-se para o Rio e não trabalha mais, vivendo do capital. O
romance realista é documental, retrato de uma época.
Observe
o trecho abaixo:
“Naquele
tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida
criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que
já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto
não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas
e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou
espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia
daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo,
para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito
clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita
preguiça e alguma devoção, – devoção, ou talvez medo; creio que medo.”
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás
Cubas. São Paulo, Scipione, 1994. p. 45)
Podemos notar todo o estilo irônico do autor, aqui
com suas baterias voltadas contra as idealizações românticas que haviam moldado
o gosto do público leitor. Repare que Machado parte de uma adjetivação que nos
leva a montar um perfil da heroína romântica (a mais atrevida, a mais
voluntariosa, bonita, fresca, carregada de feitiço, faceira) para só num
segundo momento provocar a ruptura: ignorante, pueril, preguiçosa.
Romance Naturalista
Cultivado no Brasil por
Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de
Souza e Manuel de Oliveira Paiva; o caso de Raul Pompéia é muito particular,
pois seu romance O Ateneu ora apresenta características naturalistas, ora
realistas, ora impressionistas.
Cena de O Cortiço, obra naturalista de Aluísio de Azevedo.
A narrativa naturalista
é marcada pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados,
valorizando o coletivo; interessa também notar que os títulos dos romances
naturalistas apresentam a mesma preocupação: O mulato, O cortiço, Casa de pensão, O Ateneu.
Há inclusive, sobre o romance O cortiço, a tese de
que o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana,
nem Pombinha, mas sim o próprio cortiço ou, como afirma Antônio Candido,
“o romance é o nascimento, vida, paixão e morte de um cortiço”. Sob um
certo ponto de vista, o mesmo poderia ser dito sobre o colégio Ateneu (os dois
romances se encerram com a destruição dos prédios, abrigos coletivos).
Por outro lado, o naturalismo apresenta romances
experimentais; a influência de Darwin se faz sentir na máxima naturalista
segundo a qual o homem é um animal; portanto, antes de usar a razão,
deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo ser reprimido em suas
manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe dominante.
A constante repressão leva às taras patológicas,
tão ao gosto naturalista; em consequência, esses romances são mais ousados e
erroneamente tachados por alguns de pornográficos, apresentando descrições
minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então proibidos, como
o homossexualismo: tanto o masculino, como em O Ateneu, quanto o
feminino, em O cortiço.
Observe
o texto abaixo:
“Ana
Rosa, com efeito, de algum tempo a essa parte, fazia visitas ao quarto de
Raimundo, durante a ausência do morador.
Entrava
disfarçadamente, fechava as rótulas da janela, e, como sabia que o morador não
aparecia àquela hora, começava a bulir nos livros, a remexer nas gavetas
abertas, a experimentar as fechaduras, a ler os cartões de visita e todos os
pedacinhos de papel escrito, que lhe caíam nas mãos. Sempre que
encontrava um lenço já servido, no chão ou atirado sobre a cômoda, apoderava-se
dele e cheirava-o sofregamente, como fazia também com os chapéus de cabeça e
com a travesseirinha da cama.
Estas
bisbilhotices deixavam-na caída numa enervação voluptuosa e doentia, que lhe
punha no corpo arrepios de febre.”
(AZEVEDO, Aluísio. O mulato. 19. ed.
São Paulo, Martins Fontes, 1974. p. 121)
Observamos que a personagem Ana Rosa, criada
segundo alguns “caprichos românticos e fantasias poéticas”, não resiste à força
da atração física que Raimundo lhe desperta, chegando a invadir o quarto do
rapaz. O importante é notar como a moça é dominada pelos instintos; como se
fosse um animal, “lê” o mundo por meio dos sentidos (ela “conhece” o rapaz pelo
cheiro que ele imprimiu nos objetos); a excitação provoca reações físicas
(enervação voluptuosa, febre), transformando-se num caso patológico, doentio.
Observação:
Como você observa, há vários pontos de coincidência
entre o romance realista e o naturalista; diríamos até que ambos partem de um
mesmo ponto x e ambos chegam a um mesmo ponto y, só que percorrendo caminhos
diversos. Tanto um como outro atacam a monarquia, o clero e a sociedade
burguesa. Inclusive, podemos encontrar, num mesmo autor, determinadas
posturas mais realistas convivendo com enfoques mais naturalistas. É o caso de
O Ateneu, citado acima.
*Eça de Queirós, em Portugal, é outro exemplo significativo:
alguns críticos o consideram realista, outros classificam-no como naturalista.
Principais Autores e Obras:
*Machado de Assis (1839/1908)
Poesia – Crisálidas
(1864)/ Falenas(1870)/ Americanas(1875)
Prosa: Contos –
Contos fluminenses(1870)/ Histórias da meia-noite(1873)/ Papéis
avulsos(1882)/Histórias sem datas(1884)/ Relíquias da casa velha(1906)
Romances – conforme
a crítica já consagrou, distinguem-se duas fases nos romances de Machado.
1ª fase- romances
românticos: Ressurreição(1872)/A mão e a Luva(1874)/ Helena(1876)/ Iaiá
Garcia(1878)
2ª fase – romances
realistas: Memórias Póstumas de Brás Cubas(1881)/ Quincas Borba(1891)/ Dom
Casmurro(1889)/Esaú e Jacó(1904)/ Memorial de Aires(1908)
*Aluísio Azevedo(1857/1913) Nasceu em São Luís, Capital do
Maranhão.
Romances românticos
– Uma lágrima de mulher(1879)/ Memórias de um condenado(ou A condessa de
Vésper)(1882)/ Mistério da Tijuca(ou Girândola de Amores)(1882)/ Filomena
Borges(1884)/ A mortalha de Alzira(1894)
Romances
naturalista – O Mulato (1881)/ Casa de pensão(1884)/ O homem(1877)/ O
cortiço(1890)/ O coruja(1890)
Aluísio Azevedo
pretendeu interpretar a realidade de uma camada social marginalizada, em franco
processo de degradação, quer pela força da pressão social, quer pelo
determinismo – teoria que o autor considera válida.
*Raul Pompéia (1863/1895) – Nasceu em Angra dos Reis
.Suicidou-se na noite de natal de 1895.
Prosa – O
Ateneu(1888) romance – Canções sem metro(1900) crônicas, poemas em prosa,
divagações poéticas.
FONTES: www.coladaweb.com › Literatura; guiadoestudante.abril.com.br/.../realismo-e-naturalismo;
literaturacido.blogspot.com/2011/05/realismonaturalismo.
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